quinta-feira, 15 de março de 2007

Os negócios e as pessoas


As recentes OPAs da SONAE.COM sobre a PT e do BCP sobre o BPI foram dos factos mais interessantes que animaram o mundo dos negócios em Portugal nos últimos tempos. Embora a primeira já tenha tido um desfecho final e a segunda ainda não, é já possível constatar alguns traços comuns que se têm vindo a verificar em ambas as situações.
Primeiro, as duas empresas visadas, PT e BPI, são empresas lucrativas, possuindo um elevado potencial de crescimento e de eficiência que se tem vindo a afirmar nos últimos anos;
Segundo, ambas as operações lançadas foram consideradas hostis. Ou seja, em ambos os casos as administrações tomaram uma posição de defesa da autonomia das empresas, procurando demonstrar aos actuais accionistas que a venda das suas participações, ao permitir a absorção da empresa pela sua concorrência, apresentava um maior risco de perda potencial no futuro, do que garantia de ganho prometido imediato;
Terceiro, a determinação, a coerência e a verticalidade com que em ambos os processos, a administração da PT se bateu e a do BPI se continua a bater, pela integridade da empresa e pelos interesses dos accionistas e dos seus trabalhadores.

Em ambos casos se torna claro que, mesmo no complexo mundo dos negócios, a atitude das pessoas e os princípios por que pautam a sua actuação, faz toda a diferença. Com efeito, nos dois exemplos, ambos os protagonistas das empresas visadas sabiam que ao agirem da forma que o fizeram, se perdessem, nunca teriam lugar no carro do vencedor. Mais fácil, mais cómodo, mais seguro para si próprios, teria sido alinharem à partida com o grande negócio das suas vidas. Em vez de declararem a hostilidade das propostas, poderiam mais comodamente concentrar-se na negociação de garantias pessoais futuras. Mas não, em ambos os casos as administrações destas duas empresas, representadas pelos seus presidentes Henrique Granadeiro e Fernando Ulrich, souberam colocar-se acima do comodismo comum, da resignação e do mero interesse pessoal. Pautaram o seu comportamento por princípios de dignidade e de honra em que o país precisa de acreditar.

Em época de descrença e de crise de valores, mostraram que ainda há portugueses da estirpe dos heróis do mar, que nos ensinaram nos livros de história. O seu exemplo garantiu-lhes um merecido lugar na galeria de honra das respectivas empresas, e, por mérito próprio, conquistaram o respeito do país e a motivação dos accionistas e dos trabalhadores.

Os caminhos de ferro também tiveram grandes homens ao longo da sua história de 150 anos. Por isso os ferroviários admiram e louvam os bons exemplos. E indignam-se com outros, …

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