quarta-feira, 14 de março de 2007

Negócios

Todos os dias se vendem e se compram empresas. Como todos os dias se vendem e se compram muitas outras coisas. Isso acontece porque quem vende e quem compra, ambos estão convencidos de que têm algo a ganhar com o negócio. É a pura lógica do mercado, responsável pela guerra, pela paz e por quase tudo o que hoje de importante acontece no mundo.

Por exemplo, quando alguém decide vender a sua participação numa empresa, ou a própria empresa se é o único sócio, toma essa decisão porque a realização da venda lhe permite investir esse dinheiro num outro negócio mais rentável. Num investidor esclarecido e responsável, é esse objectivo que determina uma tal decisão.

De acordo com notícias que vieram a público, a CP estará em vias de vender a TEX. Razão para que muita gente, interessada e responsável no sector, se tenha vindo a questionar sobre a lógica em que se fundamenta essa venda. As interrogações são várias:
Primeira, tanto quanto se sabe a TEX dá lucro, ao contrário das restantes actividades da CP que dão prejuízo;
Segunda, a CP nunca tentou explorar as complementaridades naturais do seu transporte de mercadorias por caminho de ferro com o transporte rodoviário da TEX. Sabendo-se que isso lhe permitiria ganhar maior quota de mercado, ao angariar e distribuir porta a porta, conquistando clientes e segmentos onde hoje não consegue chegar, ou não oferece condições competitivas, por não poder garantir um transporte completo entre origem e destino;
Terceira, a recente liberalização do transporte de mercadorias por caminho de ferro, veio colocar no mercado novos concorrentes da CP, alguns dos quais já licenciados. Para rentabilizar o negócio, é de esperar que estes venham a utilizar vários modos de transporte e explorar todas as complementaridades da intermodalidade, movendo uma feroz concorrência à CP e a todos os transportadores que hoje operam no mercado, baseados no antigo modelo de operador exclusivo de um único modo de transporte.

Sabe-se que a EMEF recorre a transportadores rodoviários privados, e a meios próprios, para fazer diariamente o transporte das suas peças e materiais, quer entre oficinas, quer nas suas compras no mercado em várias zonas do país. Transportes com dimensão e significado que poderiam potenciar sinergias de grupo através da TEX. Tanto mais que o transporte de peças para o ramo automóvel, segundo consta, até representa uma parcela importante da sua carteira de clientes. Desconhece-se qual o valor dos custos de transporte que a EMEF suporta na sua actividade, mas presume-se que sejam muitas centenas de milhares de euros, que poderiam tornar a TEX ainda mais rentável. E desconhece-se também como vai a CP Carga resistir à concorrência privada, continuando refém do velho paradigma do “nós e o mundo”.

Finalmente, desconhece-se o valor pelo qual vai ser vendida a TEX. Tal como se desconhece em que negócio mais rentável a CP pensa aplicar o dinheiro que vier a realizar com essa venda.

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