quarta-feira, 28 de março de 2007

Ganhar o jogo




Só há três maneiras de ganhar um jogo de futebol: com a equipa motivada para ganhar e tecnicamente bem preparada; com um árbitro de apito dourado; ou com a sorte da lotaria.

Qualquer treinador da terceira liga sabe isso. Talvez não saiba é que essas mesmas condições se aplicam nas empresas, ferroviárias e outras. Ou seja, o caminho para o sucesso tem apenas três vias. Só se chega lá:
» De forma consistente e duradoura, apostando na motivação e preparação técnica das pessoas;
» De forma virtual e transitória, manobrando na sombra dos bastidores, da política ou das influências pessoais;
» De forma maravilhosa e instantânea, com um milagre.

Mas se algum ferroviário no activo, mesmo que seja administrador ou paraquedista, souber de alguma outra forma para levar uma empresa a ganhar o jogo do progresso e da modernidade, olhe, mande um e-mail.

sexta-feira, 23 de março de 2007

Marcas digitais

Vistas a uma certa distância todas as pessoas parecem iguais. Mas quanto mais nos aproximamos mais nos apercebemos que existem diferenças. Para além de diferenças físicas, de idade, de género, de estatura ou de cor, que imediatamente se constatam, existem outras, que só um contacto mais directo nos permite perceber e identificar. Diferenças de crença, de valores, de vivência, ou de conhecimento. Mas também de outras, que resultam de um vasto conjunto de aptidões psicológicas essenciais, responsáveis pelas nossas atitudes e comportamentos em cada situação e circunstância que se nos depara ao longo da vida.

Ora é sobretudo o conjunto destas aptidões individuais, sejam elas inatas ou aprendidas, ou ambas, que fazem a diferença entre os grandes homens (no sentido de espécie humana) e os outros. Qualquer que seja o lugar, o tempo, a profissão, ou a actividade, por onde o homem passa, deixa inevitavelmente a marca da pessoa que é. As suas acções, tal como as suas impressões digitais, deixam o lastro de uma marca individual que ninguém pode ignorar nem evitar.

A honradez, a integridade, a lealdade, a perseverança, a coragem, a resistência às adversidades, a humildade, a dedicação aos outros, a generosidade, o altruísmo, e a convivência harmoniosa, são, entre outras, aptidões que encontramos naqueles que de entre nós foram, ou são, os grandes homens. Com essas aptidões realizam, ou deixaram, marcas que os enobreceram e que nos enobrecem a todos.

Quando o destino lhes reservou um papel de dirigentes, com maior relevo social, esses homens sabem estar à altura dessa responsabilidade. Sabem utilizar o poder que lhes foi conferido, unicamente para prossecução do bem comum. Têm clara consciência de qual é a sua missão e dos objectivos a atingir pela comunidade ou grupo que dirigem. Tudo fazem para deixar uma marca que signifique um avanço, no sentido de melhorar as coisas. Seja um país mais desenvolvido, uma instituição mais útil e eficaz, uma empresa mais sólida e eficiente, ou um mundo mais justo e melhor. Entendem que a sua missão está ao serviço de causas nobres, sabendo que é essa exclusivamente a legitimidade do poder, político, social ou patronal, que lhes foi conferido. Sabem exercer o poder para servir, não para se servirem dele.

Esses são os grandes homens que merecem o nosso respeito e admiração. É do exemplo de homens desses que precisamos.

quarta-feira, 21 de março de 2007

Pior a emenda que o soneto

Em 1971, quando o jornal New York Times publicou um conjunto de documentos do Pentágono que provavam o complexo envolvimento dos Estados Unidos na guerra do Vietname, Henry Kissinger ficou furioso pela forma negligente como o governo deixou escapar essa informação. Resolveu então tomar medidas drásticas que levaram à formação de um grupo de fiéis chamado “Os Bombeiros” para tapar o buraco que tinha permitido a fuga de informação.

Ao contrário do que Henry Kissinger desejava, o seu excesso de zelo perante este caso, viria porém a provocar muito maior interesse na opinião pública. Daí foi um passo para que o escândalo rapidamente ganhasse dimensão política. A situação tornou-se de tal modo incontrolável que foi a própria unidade de intervenção, criada exactamente para controlar a crise, que acabou por invadir o escritório do Partido Democrático no Watergate Hotel, desencadeando um conjunto de acontecimentos em cadeia que culminaram na queda do Presidente Nixon.

Ora a forma inconsequente como alguns responsáveis reagem quando se tornam públicas certas situações que eles próprios criaram, chegam a fazer lembrar este caso. O que implica um de dois entendimentos possíveis: ou na ferrovia se sofre de um grave sindroma de esquecimento, ou já não se atende aos ensinamentos da história.

Entre outros, o episódio das indemnizações/contratações Refer/Rave, a venda/liquidação CP/Tex, ou o eclipse estratégico EMEF, são todos casos completamente diferentes. Excepto num ponto: nenhum deles está ainda absolutamente clarificado. E não se pense que basta retirar algumas páginas do livro para apagar a memória.

terça-feira, 20 de março de 2007

Burocracia

Em 1949, a Câmara de Paris tendo necessidade de salas disponíveis para instalar novos serviços, descobriu uma sala onde funcionava o Departamento dos Prejuízos Causados pela Enchente de 1910. Na secção ainda “trabalhavam” dois funcionários idosos, que revelaram ter o Departamento pago a última indemnização devida em 1913, ou seja 36 anos antes.

Não sabemos se ainda se mantém este recorde, de serviços que permanecem anos e anos depois de já não terem qualquer utilidade que os justifique. Do que toda a gente sabe é do sucessivo aparecimento de novos departamentos que ninguém percebe para que é que servem, para além de atrapalharem, constituindo fonte de desmotivação para quem trabalha. O que significa, entre outras coisas, que a burocracia continua a ter por cá muitos defensores. Quer exemplos? É simples, procure-os na Refer, na CP e na EMEF.

segunda-feira, 19 de março de 2007

Marés vivas

Estamos em período de marés vivas, fenómeno natural que ocorre em todo o mundo, motivado por alinhamentos astronómicos designadamente na altura dos equinócios, ou por condições meteorológicas especiais. Em alguns locais, devido à configuração específica da costa, pode originar situações de alguma preocupação. As previsões existentes podem ser consultadas diariamente no website do Instituto Hidrográfico (www.hidrografico.pt).

Mas as marés vivas não ocorrem só como fenómeno da natureza. Num certo sentido, também existem no plano político, social empresarial. E nesta dimensão o ano na ferrovia promete. A época é propícia e os sinais estão aí por todo o lado. Basta ler os sites e estar atento.

quinta-feira, 15 de março de 2007

Os negócios e as pessoas


As recentes OPAs da SONAE.COM sobre a PT e do BCP sobre o BPI foram dos factos mais interessantes que animaram o mundo dos negócios em Portugal nos últimos tempos. Embora a primeira já tenha tido um desfecho final e a segunda ainda não, é já possível constatar alguns traços comuns que se têm vindo a verificar em ambas as situações.
Primeiro, as duas empresas visadas, PT e BPI, são empresas lucrativas, possuindo um elevado potencial de crescimento e de eficiência que se tem vindo a afirmar nos últimos anos;
Segundo, ambas as operações lançadas foram consideradas hostis. Ou seja, em ambos os casos as administrações tomaram uma posição de defesa da autonomia das empresas, procurando demonstrar aos actuais accionistas que a venda das suas participações, ao permitir a absorção da empresa pela sua concorrência, apresentava um maior risco de perda potencial no futuro, do que garantia de ganho prometido imediato;
Terceiro, a determinação, a coerência e a verticalidade com que em ambos os processos, a administração da PT se bateu e a do BPI se continua a bater, pela integridade da empresa e pelos interesses dos accionistas e dos seus trabalhadores.

Em ambos casos se torna claro que, mesmo no complexo mundo dos negócios, a atitude das pessoas e os princípios por que pautam a sua actuação, faz toda a diferença. Com efeito, nos dois exemplos, ambos os protagonistas das empresas visadas sabiam que ao agirem da forma que o fizeram, se perdessem, nunca teriam lugar no carro do vencedor. Mais fácil, mais cómodo, mais seguro para si próprios, teria sido alinharem à partida com o grande negócio das suas vidas. Em vez de declararem a hostilidade das propostas, poderiam mais comodamente concentrar-se na negociação de garantias pessoais futuras. Mas não, em ambos os casos as administrações destas duas empresas, representadas pelos seus presidentes Henrique Granadeiro e Fernando Ulrich, souberam colocar-se acima do comodismo comum, da resignação e do mero interesse pessoal. Pautaram o seu comportamento por princípios de dignidade e de honra em que o país precisa de acreditar.

Em época de descrença e de crise de valores, mostraram que ainda há portugueses da estirpe dos heróis do mar, que nos ensinaram nos livros de história. O seu exemplo garantiu-lhes um merecido lugar na galeria de honra das respectivas empresas, e, por mérito próprio, conquistaram o respeito do país e a motivação dos accionistas e dos trabalhadores.

Os caminhos de ferro também tiveram grandes homens ao longo da sua história de 150 anos. Por isso os ferroviários admiram e louvam os bons exemplos. E indignam-se com outros, …

quarta-feira, 14 de março de 2007

Negócios

Todos os dias se vendem e se compram empresas. Como todos os dias se vendem e se compram muitas outras coisas. Isso acontece porque quem vende e quem compra, ambos estão convencidos de que têm algo a ganhar com o negócio. É a pura lógica do mercado, responsável pela guerra, pela paz e por quase tudo o que hoje de importante acontece no mundo.

Por exemplo, quando alguém decide vender a sua participação numa empresa, ou a própria empresa se é o único sócio, toma essa decisão porque a realização da venda lhe permite investir esse dinheiro num outro negócio mais rentável. Num investidor esclarecido e responsável, é esse objectivo que determina uma tal decisão.

De acordo com notícias que vieram a público, a CP estará em vias de vender a TEX. Razão para que muita gente, interessada e responsável no sector, se tenha vindo a questionar sobre a lógica em que se fundamenta essa venda. As interrogações são várias:
Primeira, tanto quanto se sabe a TEX dá lucro, ao contrário das restantes actividades da CP que dão prejuízo;
Segunda, a CP nunca tentou explorar as complementaridades naturais do seu transporte de mercadorias por caminho de ferro com o transporte rodoviário da TEX. Sabendo-se que isso lhe permitiria ganhar maior quota de mercado, ao angariar e distribuir porta a porta, conquistando clientes e segmentos onde hoje não consegue chegar, ou não oferece condições competitivas, por não poder garantir um transporte completo entre origem e destino;
Terceira, a recente liberalização do transporte de mercadorias por caminho de ferro, veio colocar no mercado novos concorrentes da CP, alguns dos quais já licenciados. Para rentabilizar o negócio, é de esperar que estes venham a utilizar vários modos de transporte e explorar todas as complementaridades da intermodalidade, movendo uma feroz concorrência à CP e a todos os transportadores que hoje operam no mercado, baseados no antigo modelo de operador exclusivo de um único modo de transporte.

Sabe-se que a EMEF recorre a transportadores rodoviários privados, e a meios próprios, para fazer diariamente o transporte das suas peças e materiais, quer entre oficinas, quer nas suas compras no mercado em várias zonas do país. Transportes com dimensão e significado que poderiam potenciar sinergias de grupo através da TEX. Tanto mais que o transporte de peças para o ramo automóvel, segundo consta, até representa uma parcela importante da sua carteira de clientes. Desconhece-se qual o valor dos custos de transporte que a EMEF suporta na sua actividade, mas presume-se que sejam muitas centenas de milhares de euros, que poderiam tornar a TEX ainda mais rentável. E desconhece-se também como vai a CP Carga resistir à concorrência privada, continuando refém do velho paradigma do “nós e o mundo”.

Finalmente, desconhece-se o valor pelo qual vai ser vendida a TEX. Tal como se desconhece em que negócio mais rentável a CP pensa aplicar o dinheiro que vier a realizar com essa venda.

segunda-feira, 12 de março de 2007

Técnicas

As oficinas são locais onde se praticam técnicas muito diversificadas. Desde as ancestrais rebitagens a quente, herdadas do tempo do vapor, até às mais modernas intervenções em micro processadores electrónicos da era digital. Praticamente todos os dias aparecem técnicas novas.

Uma das mais recentes, que tem vindo a ganhar um crescente número de adeptos, é a que se anuncia neste vídeo. Embora, apesar das semelhanças, seja fácil confirmar que não foi feito na EMEF, nem contou com qualquer patrocínio da CP, nem com o trabalho do seu destacamento de adidas, que ainda está por inventar.

domingo, 11 de março de 2007

A revolta das galinhas


Há anos que o Sr Almeida administra a quinta no Entroncamento com pulso de ferro. Galinha que não ponha ovo todos os dias é imediatamente transformada em canja. Mas Pepe, um vistoso periquito azul que lidera a resistência galinácea, não se conforma inventando continuamente novos métodos de fuga do galinheiro. Embora sem qualquer sucesso tendo até agora sido sempre apanhado pelo Sr. Almeida e pelos seus cães.

Mas entretanto começou por aí a correr à boca cheia que um galo americano está em vias de ir parar à quinta por acidente, acompanhado por um cartaz que o identifica como “galo voador”. Em face da notícia, Pepe ganhou novo alento para a luta e insiste que o novo inquilino vai ensinar as prisioneiras a voar. Não se sabe se os novos métodos vão ser melhores que os antigos, mas, pelo sim pelo não, consta que o Sr. Almeida decidiu tomar medidas drásticas para continuar a garantir a rentabilidade da exploração, tendo até já encomendado uma máquina para fazer empadas de galinha.

Com todo este fervilhar de estratégias, é cada vez maior a expectativa para ver o que é que se irá passar a seguir?...

terça-feira, 6 de março de 2007

Pesquisas


Se pertence àquele grupo de pessoas que anda por aí desmotivado e, tal como os técnicos, a queixar-se pela oficina que não é promovido há vários anos, que não tem qualquer expectativa de carreira, que por mais que se esforce ninguém parece reconhecer a sua dedicação, que mesmo quando existem lugares vagos, de chefia ou direcção, só sabe depois de lhe apresentarem os boys e girls, verdadeiros desconhecidos apoderados de fora da empresa para ocupar os respectivos cargos, não dando sequer uma oportunidade a gente da casa com potencial, experiência e provas dadas.

Se faz parte desse pequeníssimo grupo de descontentes (concerteza sem razão absolutamente nenhuma), então, pelo menos hoje, está com sorte. Para o ajudar a motivar-se temos para lhe oferecer um motor de pesquisa na internet com o logótipo deste blog. É muito fácil de utilizar e, se ainda não percebeu o que se está a passar no sector ou na empresa, vai permitir-lhe pesquisar mais facilmente e talvez até descubra qual é a estratégia. Como é habitual, a procura faz-se por palavras-chave que se escrevem na caixa de pesquisa. Se não conseguir logo à primeira, não desanime, volte a pesquisar através de outra palavra ou de uma expressão sinónima. Trata-se de uma ferramenta que lhe pode permitir uma importante valorização técnica, através do contacto com as inovações tecnológicas no campo ferroviário, compensando nalguma medida a formação profissional que não se faz. Vai ver que é muito fácil de utilizar, é rápido, serve para encontrar quase tudo e os resultados são praticamente imediatos.

Se quiser experimentar, basta clicar neste link, podendo depois adicionar a página aos seus favoritos, para ter sempre à mão quando daqui a uns dias quiser fazer novas pesquisas. Por exemplo, para saber as histórias que estão aí para rebentar, ou para conhecer as novas administrações das empresas do sector …

segunda-feira, 5 de março de 2007

Errar o alvo


Em 1944, uma enorme quantidade de bombardeiros nazis aumentou de repente sobre Londres, sem que ninguém conseguisse perceber os motivos. Em poucos dias, mais de duas mil bombas V-1 caíram na cidade e arredores, matando mais de cinco mil pessoas e ferindo muitas mais. Mas, por alguma razão, os Alemães erravam os alvos principais. As bombas que deviam cair sobre Tower Bridge, ou Piccadilly, caíam fora da cidade, em subúrbios menos povoados.

Isto porque, ao fixar os alvos, os Alemães se baseavam nas coordenadas que lhes eram transmitidas por agentes secretos que antes haviam sido colocados em Inglaterra. Desconheciam que os seus agentes de espionagem tinham sido descobertos e que, no lugar deles, os ingleses tinham muito subtilmente continuado a transmitir informações, mas falsas. Por isso as bombas não acertavam nos alvos que os Alemães pretendiam atingir.

Também nas nossas empresas, muitas das medidas continuam a errar os verdadeiros alvos. Porque será?

domingo, 4 de março de 2007

Nunca virar as costas ao inimigo


Conta-se que Napoleão se desentendera com o capitão Dupont, por razões que não vêm agora ao caso.

Um certo dia encontraram-se numa recepção, mas Napoleão ao reconhecer o capitão virou-lhe as costas. Apercebendo-se disso, Dupont aproximou-se decidido, dizendo: «Agradeço-vos, senhor, por me contardes entre os vossos amigos».
- E o que é que vos levou a pensar isso, capitão? – Perguntou Napoleão admirado.
- O mundo inteiro sabe que vós nunca virais as costas ao inimigo! - Respondeu Dupont. Foi a pedra de toque para que, a partir daí, passasse a existir entre ambos uma grande amizade.

quinta-feira, 1 de março de 2007

Mandar e Ensinar Através do Exemplo

Não há modo de mandar, ou ensinar mais forte, e suave, do que o exemplo: persuade sem retórica, impele sem violência, reduz sem porfia, convence sem debate, todas as dúvidas desata, e corta caladamente todas as desculpas. Pelo contrário, fazer uma coisa, e mandar, ou aconselhar outra, é querer endireitar a sombra da vara torcida.

Manuel Bernardes, in «Luz e Calor» transcrito por Citador